Perdidos nas Montanhas do Norte das Filipinas, numa zona de gente agreste que pouco foi submetida à colonização espanhola e que ainda hoje pratica uma religião mista de critianismo e antigos deuses pagões, existe uma das paisagens mais incríves criadas pelo homem, mas em completa sintonia com a Natureza, que já vi.
Chegar lá, faz parte da aventura. Um autocarro de noite desde Manila que nos deixa em Banaue, a vila de entrada para os diferentes arrozais, numa viagem de 10 horas, daquelas que é melhor dormir e não olhar para a estrada sinuosa e para as ultrapassagens totalmente inconscientes, para um condutor europeu, mas perfeitamente seguras para qualquer condutor local.
Acabámos por ficar 4 dias nesta zona, um dia para descansar da viagem de noite, dois dias a caminhar pelos arrozais, e um último dia a descansar do trekking e a prepararmo-nos para a viagem de regresso a Manila. O alojamento em Banaue é bastante básico, e semelhante entre as várias guesthouses que se alinham na rua que atravessa a vila.
As caminhadas organizam-se no Posto de Turismo, e não é verdadeiramente necessário organizar com antecedência, pelo menos na época baixa, como foi o nosso caso, em Setembro. Aliás, Setembro é dos piores meses para vir ver os arrozais, pelo risco de chuva, mas por outro lado, a paisagem é de um verde intenso, já que a maioria dos arrozais ainda tiveram a sua colheita. Tivémos sorte e nos dois dias que andámos a caminhar pelos arrozais, choveu apenas ao fim de cada dia.
A caminhada não é fácil, já que consite em atravessar montanhas e vales, cobertos de vegetação densa, com apenas um carreiro traçado pelos habitantes das diferentes aldeias. Cada pequena povoação é então rodeada de arrozais, embutidos nas encontas destas montanhas, em sucessivos andares, de verde e água, com muros feitos de pedra, e, os mais recentes, em cimento. Ah, um pormenor importante é que esta paisagem de arrozais faz parte do Património Mundial da Unesco, pelo facto de permanecerem inalterados desde há 2000 anos. Estou a falar dos arrozais com muros em pedra, como Batad, onde é expressamente proibido usar cimento para solidificar os muros.
As paisagens que atravessamos são incríveis. Os sítios isolados que atravessamos, o facto de serem tão remotos só traz ainda mais valor e uma sensação de privilégio de podermos estar ali. Depois de 8 horas de caminhada, num sítio onde não há luz ou água corrente, merecemos estar ali, e ver aquelas paisagens que só alguns turistas poderão ver! Estamos num sítio onde os habitantes têm de caminhar horas para chegar a uma estrada alcatroada, de onde podem apanhar um transporte para a vila mais próxima, numa viagem semanal que fazem para vender produtos locais e poder comprar alguns luxos do mundo civilizado, como medicamentos,productos de higiene ou coca cola. O arroz, esse não se vende. É a base da alimentação e nunca se sabe se vai faltar!
Há também alguma fauna. Tivemos o prazer de estar a meio metro de uma serpente que a picada mata numa hora….felizmente passou por nós bem depressa, talvez importunada pelas pauladas que o nosso guia tentava lhe dar!
Pensemos nas Filipinas e vem-nos à cabeça praias, ilhas, águas límpidas e areias brancas. Este é um lado das Filipinas que sai desse cenário paradisíaco, mas que o completa tão bem. Uma visita a este arquipélago ficará sempre superficial se não viermos ao Norte e caminhar pelas montanhas e arrozais de Banaue!

