Johanesburgo- O sovaco da África do Sul ou vale a pena visitar? Divagações em Ré Maior

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Johanesburgo foi aquela cidade que não queríamos visitar. Mas por ser o maior hub aéreo da África do Sul, de onde iríamos voar para Bangkok, e ser um ponto de passagem obrigatório para Moçambique e para o Kruger fomos quase obrigados a visitar esta cidade, mal afamada pela sua alta criminalidade (historias do género que não se para à noite nos semáforos!!)

A certa altura dissemos que não iríamos visitar de todo Johanesburgo, que iríamos directos ao aeroporto, mas resolvemos mudar de ideias, devido a duas atrações desta cidade: a township de Soweto, o único sítio do mundo onde há uma rua onde viveram dois prémios Nóbeis da Paz (Mandela e Desmond Tutu) e um dos sítios emblemáticos na luta contra o apartheid e o museu do Apartheid, o melhor museu da África do Sul e um sítio de visita obrigatória para quem quer saber mais acerca do passado recente deste país, que continua a moldar o seu presente e que o moldará para as gerações futuras certamente.

Acerca de Johanesburgo

Vindos de Capetown de autocarro (19 horas de viagem- duro!), à medida que nos aproximamos de Johanesburgo sentimos que estamos a chegar ao coração da economia Sul Africana. As grandes plantações e herdades de gado vão dando lugar a cabos de alta tensão, grandes fábricas e até uma central nuclear lá ao fundo. Também as estradas transformam-se em grandes auto estradas com várias faixas de cada lado.

Como em cada cidade Sul Africana, são as townships, as favelas, nos arredores, que anunciam que estamos a chegar. Muitas destas townships passaram por um processo de evolução e deixaram há muito de ser bairros de lata, para ser autênticas cidades, com casinhas todas iguais, mais ou menos pobres, construídas com a ajuda do governo (certamente uma dos prioridades do novo governo pós-apartheid). Johanesburgo é uma cidade imensa, com uma extensão até perder de vista, muito maior que Cape Town! Conseguimos identificar imediatamente o centro, o CBD, Central Business District, pelos seus enormes arranha céus, do género que estamos habituados a ver numa cidade norte americana. A designação de CBD ficou dos tempos do regime do apartheid, quando efectivamente todos os negócios se encontravam no centro da cidade. Mas desde que o novo regime chegou ao poder, e como em todas as cidades, os brancos, que controlam a economia, abandonaram o centro de Johaneburgo, em direção a subúrbios de luxo, tão ou mais ricos que qualquer bairro duma zona de bem na Europa, levando os bancos e sedes de empresas com eles.

Divagações

Hoje em dia, no CBD de Johanesburgo vêm-se quase só pessoas de raça negra e sente-se o frenesim e balbúrdia própria duma cidade Africana (nunca sei como as designar: pretos? Negros? Pessoas de cor? Estou a tentar ser politicamente correcto aqui no blog para não ofender susceptibilidades. Mas na África do sul, toda a gente chama as coisas pelo seu nome: white, black, indian, coloured (mestiço). Esta é uma das coisas que aliás choca um Europeu quando chega a África do Sul:  o à vontade com que brancos e pretos falam uns dos outros pela cor da pele: the whites do this, the blacks are like that… Algo que para nós na Europa seria politicamente incorrecto aqui é uma realidade do dia à dia, e as pessoas não têm papas na língua para chamar as coisas pelo nome.Pessoa mais sensíveis podem chamar isto de racismo. Eu acho que não. Racismo para mim é quando há descriminação em relação a alguém ou grupo de pessoas, com um comportamento mais ou menos favorável devido à cor da pele. Se na África do Sul alguém diz: os brancos são assim, ou os pretos são assado isto não é racismo. É expressar uma opinião de uma forma clara! Claro que continua a existir muito racismo na África do Sul, de ambas as partes.)

Vida durante o Apartheid e agora- Barómetro do Taxista

Estivémos dois dias nesta cidade. No primeiro, que relato neste post fomos ao Museu do Apartheid. Embalado pelo assunto, à ida no Táxi começo a falar com o taxista acerca da vida duma pessoa de raça negra durante o apartheid e agora. De uma forma resumida o que me disse foi: “ No apartheid havia mais emprego, a economia era melhor, não havia criminalidade e as coisas funcionavam todas bem. Agora não temos apartheid, temos liberdade, podemos ir onde queremos, estar onde queremos, apanhar os transportes que queremos, mas tudo o resto piorou!” Esta era uma opinião que já tinha ouvido vezes sem conta, mas vinda de brancos! Tive a oportunidade depois de falar com outros taxistas pretos ( o meu barómetro de opinião pública) que confirmaram esta opinião! Interessante…

Museu do Apartheid

Anyway, o Museu do Apartheid é imenso, e vale a pena chegar de manhã cedo, e planear ficar umas boas 3 horas. É tanta a informação, escrita e com vídeos que a determinada altura ficamos com uma overdose de informação! Ou seja, é melhor guardar alguns neurónios para a parte final do museu, onde explicam a queda do regime do Aparthei e também o período de transição. Este museu é ainda obrigatório para quem vai a Cape Town e planeia ir à Prisão onde esteve o Nélson Mandela, Robben Island, onde a informação disponível não é muita, para além da explicação emotiva mas talvez simplificada do guia, que normalmente é um antigo prisioneiro.

 

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 A vida cosmopolita de Johanesburgo

Infelizmente não tivémos tempo para ver o lado cosmopolita de Capetown, com os seus coffeeshops, restaurantes e galerias, muitos deles nos bairros de suburbios de Melville (famoso pelos seus bares) ou de Sandton. Todos os sul africanos com quem falámos contaram-nos maravilhas da vida vibrante de Johanesburgo para quem conhece onde ir. A questão da segurança não se põe muito, já que normalmente se anda de carro para todo o lado e nestes bairros melhores a criminalidade é mínima. Fica para a próxima.

No fina ficámos contentes de ter visitado Johanesburgo. É um sítio mais complicado que o normal para descobrir, mas para quem tem um pouco de tempo, merece verdadeiramente uma oportunidade! Se puderem visitar com locais (couchsurfing) penso que será mesmo a melhor maneira!

Onde ficámos

Em Johanesburgo, na primeira noite ficámos em Melville, no Life on 3rd, uma guest house bem decorada e cosy, como os Sul Africanos trendys conseguem fazer! Sentimo-nos verdadeiramente num oásis de tranquilidade e segurança, bem vindo a quem chega no primeiro dia a uma cidade como Johanesburgo! O dono, o Bernard, é um antigo arquitecto paisagístico que resolveu mudar de carreira e adquiriu há pouco tempo esta guest house. Mas a Lydie, já faz parte da mobília, e como diz o Bernard, é ela que gere todo a guest house! 🙂

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Declaração de interesses: ficámos no Life on 3rd, a convite do Bernard e da Lydie. Como sempre, as opiniões aqui expressas são as nossas.

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