Saber que vacinas tomar numa viagem para destinos mais exóticos é sempre das perguntas que surgem na altura de preparar a partida. Com tanta variedade de doenças, diferentes medicações, fontes de informação e opiniões distintas é difícil saber que vacinas tomar para se estar suficientemente protegido durante uma viagem.
Para ajudar todos os viajantes neste capítulo e como é uma parte essencial na preparação de qualquer grande viagem, vou tentar descrever em detalhe a minha análise e contar-te quais são as vacinas que tomo e porquê, para te ajudar a tomar a tua própria decisão, já que este não é um tema consensual. Ou seja, o que pode ser um nível de protecção aceitável para mim poderá ser exagerado para uns e arriscado para outros.
Antes de mais, de que doenças estamos a falar?
Ignoremos as diarreias, as queimaduras solares e coisas afins. Consideremos as coisas mais sérias e mais específicas a viagens. Todas elas poderão ser mortais ou deixarem sequelas graves se não forem tratadas a tempo. Porém, com a devida medicação e repouso podem ser curadas e pode-se mesmo prosseguir viagem!
Estas doenças podem ser dividadas em três tipos:
1) Doenças cujas vacinas fazem parte do plano de vacinação nacional e que devemos estar já imunizados
As seguintes doenças são passíveis de se apanhar durante uma viagem. Porém, as suas vacinas fazem parte do plano nacional de saúde e a grande maioria das pessoas já se encontra vacinada. Antes de partires em viagem, aproveita a oportunidade para conferir se já estás vacinado contra as seguintes doenças:
Hepatite B
Polio
Tétano
Difteria
Tuberculose
2) Doenças que se podem apanhar durante uma viagem para as quais existe uma vacina
Encefalite Japonesa
O que é: Doença provocada por um vírus semelhante ao vírus da febre amarela e do dengue. A doença é transmitida ao homem pela picada de um mosquito especialmente nas zonas rurais, exclusivamente no continente Asiático .
Como se apanha: através de picadas de mosquitos, nas zonas rurais, como em arrozais, sítios com animais ou zonas pantanosas.
Sintomas: Pescoço dorido , dores de cabeça, febre e intolerância à luz
Quem deve vacinar-se? Quem vai passar longas temporadas em zonas rurais
Países de Risco:
Meningite Meningocócica
O que é: É uma infecção causada por uma bactéria.
Como se apanha: através de tosse e espirros.
Sintomas: pontos vermelhos e manchas como nódoas negras na pele.
Quem deve vacinar-se? Quem visita as zonas de risco e está em contacto próximo frequente com a população (ex: voluntariado)
Países de Risco:
Hepatite A
O que é: é a causa mais frequente de hepatite aguda, que ataca o fígado e pode deixar sequelas para a vida toda.
Como se apanha: através de água ou comida contaminada
Sintomas: febre, diarreia e possivelmente ictericia e alergias.
Quem deve vacinar-se? Todos que visitem as zonas de risco e poderão comer ou beber algo contaminado.
Países de Risco:
Febre tifóide:
O que é: é uma febre causada por uma bactéria, sendo uma doença grave e foi responsável por várias epidemias ao longo da história.
Como se apanha: através de água ou comida contaminada, ou através do contacto com fezes de alguém contaminado (sim…estranho, mas pode acontecer!)
Sintomas: febres cada vez mais altas, dores de estômago, fraqueza, tosse e surdez.
Quem deve vacinar-se? Todos que visitem as zonas de risco e poderão comer ou beber algo contaminado.
Países de Risco:
Febre Amarela
O que é: é uma infecção causada por um vírus, transmitido através da picada de um tipo de mosquito. Há epidemias frequentes que podem infectar mais de 20% da população não vacinada. O nome “amarela” vem da cor que a pele e os olhos tomam nas situações mais extremas, devido à icterícia.
Como se apanha: através da picada de insectos.
Sintomas: febres altas, vómitos e dores abdominais.
Quem deve vacinar-se? Todos que visitem as zonas de risco. (esta vacina é obrigatória para entrar em muitas zonas de risco, como a Amazónia por exemplo)
Países de Risco:
Raiva
O que é: A raiva é uma doença infecciosa que afecta os mamíferos causada por um vírus que se instala e multiplica primeiro nos nervos periféricos e depois no sistema nervoso central e dali para as glândulas salivares, de onde se multiplica e propaga.
Como se apanha: se um animal infectado nos morder, arranhar, ou lamber-nos uma ferida .
Sintomas: febre, arrepios de frio, cansaço ou ansiedade. Sintomas posteriores podem ser comportamento agressivo e alucinações, ou perda de sensibilidade muscular e paralisia parcial.
Quem deve vacinar-se? A OMS diz: ” viajantes que provavelmente estarão em contacto com animais domésticos, como cães”. Esta vacina é tomada em 3 doses, ao longo dum mês. Em caso de entrarmos em contacto com um animal raivoso, a vacina é apenas semi-preventiva, o que quer dizer que teremos de tomar ainda duas vacinas curativas. Para as pessoas sem vacina preventiva, terão que tomar uma injecção de RIG (Raiva imuno globina) para além de 5 injeções curativas. (espaçadas ao longo dum mês)
Países de Risco:
Cólera
O que é: é uma infecção intestinal aguda causada por uma bactéria.
Como se apanha: através do consumo de água contaminada ou de marisco.
Sintomas: Vómitos e diarreia totalmente líquidas (até 20 litros por dia!)
Quem deve vacinar-se? A cólera propaga-se em surtos, em zonas específicas. Só quem tem mesmo necessitado de visitar zonas onde se está a passar um surto de cólera deverão tomar esta vacina.
Países de Risco:
3) Doenças que se podem apanhar durante uma viagem para as quais não existe uma vacina:
Bilharzia
O que é: é uma doença causada por microvermes que se alojam no sistema urinário ou nos intestinos
Como se apanha: através do consumo ou contacto com água infectada, ou ingestão de alimentos contaminados com estes micro vermes.
Sintomas: dores abdominais, diarreia, urina com sangue.
Como prevenir: beber somente água engarrafada, não comer alimentos crus a não ser que descascados e não tomar banho em águas paradas.
Como tratar: em caso de contaminação, existe medicação (Praziquantel)
Países de Risco:
Malária (também conhecida por Paludismo) :
O que é: uma doença infecciosa do sangue, causada por microrganismos parasitários que se depositam no fígado, onde maturam e se reproduzem.
Como se apanha: através da picada de insectos (femininos já agora) portadores da doença.
Sintomas: arrepios de frio e tremores. Febres altas com batimento cardíaco acelerado, seguido de descida da temperatura.
Como prevenir: A melhor prevenção é através de evitar picadas de mosquitos utilizando repelente anti mosquitos com uma forte concentração de DEET ( o agente químico repelente), cobrir a pele assim como utilizar redes de mosquito à noite.
Há ainda diferentes comprimidos de prevenção de malária que se tomam antes e durante a permanência em zonas de risco. Que tipo de comprimidos tomar depende de várias coisas como onde se vai, quanto tempo se fica, e como o nosso organismo reage a estas drogas. Alguns deles causam efeitos secundários como pesadelos, problemas digestivos ataques de pânico e podem ser nocivos ao fígado. Pode-se apanhar malária mesmo quando tomamos estes comprimidos preventivos!
Como tratar: Há diversos tipos de tratamento, consoante a estirpe de malária com que estejamos infectados.
Países de Risco:
Dengue
O que é: uma doença infecciosa tropical causado pelo vírus da Dengue.
Como se apanha: através da picada de insectos portadores da doença.
Sintomas: dores fortes nas articulações e músculos, nódulos linfáticos inchados, sangrar do nariz, dores de cabeça, febre e irritações na pele. A presença simultânea de dores de cabeça, febre e irritações na pele é conhecida como a tríade da dengue!
Como prevenir: Não há vacina contra a dengue. A melhor prevenção é através de evitar picadas de mosquitos utilizando repelente anti mosquitos com uma forte concentração de DEET ( o agente químico repelente), cobrir a pele assim como utilizar redes de mosquito à noite.
Como tratar: Nao há tratamento específico para a Dengue. Se pensamos ter apanhado dengue, devemos usar comprimidos com acetaminophen, e evitar medicamentos com aspirina, que podem piorar o sangramento.
Países de Risco:
Chikungunya
O que é: é um vírus. O nome Chikungunya, significa “aqueles que se dobram”, em Swahili, em referência à posição curvada dos doentes, pelas intensas dores articulares e musculares, causadas pela doença.
Como se apanha: através da picada de insectos.
Sintomas: febres altas, equizemas no torso e membros e dores nas articulações e músculos.
Como prevenir: A melhor prevenção é através de evitar picadas de mosquitos utilizando repelente anti mosquitos com uma forte concentração de DEET ( o agente químico repelente), cobrir a pele assim como utilizar redes de mosquito à noite.
Como tratar: Não existe vacina. Comprimidos como o Paracetamol atenuam os efeitos.
Países de Risco:
Com tantas doenças e vacinas, quais são as verdadeiramente necessárias?
Com tanta doença e vacina, teremos que nos encher de fármacos e gastar uma fortuna antes de partir de viagem ?! Depende de vocês. A probabilidade de apanhar algumas destas doenças é relativamente pequena e muitos viajantes decidem não tomar as vacinas para todas as doenças possíveis. Outros porém, preferem jogar pelo seguro e não correr nenhum risco!
Acima de tudo convém ser razoável, analisar bem se vale a pena tomar determinada vacina, ver onde vamos andar e o que vamos fazer no destino, ir a uma consulta do médico viajante, falar com outras pessoas que visitaram os mesmos destinos,ler diferentes opiniões em fóruns e acima de tudo, tomar a decisão com que nos sintamos mais confortáveis. No final, é a nossa saúde, e cada pessoa pessoa sabe que nível de segurança e de proteção necessita para se sentir confortável durante a viagem e aproveitar a experiência.
O melhor remédio é mesmo a prevenção. Durante a viagem deve-se ter cuidado com o que se come, tentando evitar todos os alimentos que não sejam cozinhados, como saladas, sobretudo em sítios que nos pareçam mais suspeitos! Depois, beber sempre água engarrafada e tentar proteger-se ao máximo das picadas dos insectos, os grandes sacanas nesta história toda!
A minha escolha para uma viagem à volta do Mundo
Já que nesta coisa das vacinas há uma grande componente de decisões pessoais, partilho a minha experiência e decisões. Numa primeira viagem que fiz de 8 meses à volta da Ásia, pelo Médio Oriente, India, Sudoeste Asiático, China, Mongólia e Rússia não tomei nenhuma vacina, com alguma inconsciência. Agora, na nossa volta ao mundo iremos viajar por zonas de risco de várias doenças, incluindo África, Sudoeste Asiático e América do Sul. Como não queria tomar vacinas que não precisasse absolutamente (por um questão de saúde e uma questão financeira) tomei uma decisão à volta dos seguintes critérios:
– Obrigatoriedade legal de tomar a vacina
-Sítios onde a doença está presente no nosso itinerário
-Probabilidade/Facilidade de se apanhar a doença ou de minimizar o impacto.
– Eficácia da vacina na prevenção da doença
– Custo/facilidade do tratamento
Em termos práticos isto quer dizer que vou tomar as vacinas da:
– Febre Amarela- Porque é obrigatório para visitar certas zonas (Amazónia por exemplo) e por vezes pedem comprovativo para poder entrar em certos países quando vindo de zonas de risco.
– Hepatite A- Porque a vacina é eficaz, não é cara, consiste apenas numa dose, e porque a Hepatite A é se apanha com a comida/bebida e nem sempre podemos controlar o que comemos e por estar presente em todos os continentes onde vamos passar!
– Febre Tifóide: pelas mesmas razões da Hepatite A.
Segunda a médica da consulta de viajante, para uma viagem volta ao mundo, esta base de vacinas é o mínimo que se deve tomar. Nós estamos confortáveis com este nível de protecção e por isso não vamos tomar mais nada.
Que vacinas ficam de fora? A Encefalite Japonesa, porque não vamos andar no meio rural de forma contínua e prolongada. A meningite meningocócica, porque não vamos andar nas zonas de risco ou em contacto próximo com as pessoas locais. A da cólera porque também não vamos andar nas zonas de risco. Há ainda a vacina contra a raiva, que decidimos não tomar, por ser um tratamento longo (3 injecções) e caro e ser apenas semi preventivo.
Para além destas vacinas, vou verificar se tenho em dia a vacina da tuberculose e do tétano, que é algo que devemos estar sempre imunizados, independentemente de viagens!
Relativamente à malária
Discutir a medicação da malária é como discutir o sexo dos anjos. Cada cabeça, sua sentença.
Aqui vai a minha:
Depois de ter falado com pessoas que ou tomaram a medicação preventiva e apanharam malária à mesma, ou pessoas que tomaram a medicação e os efeitos secundários eram tão nocivos que lhes estava a estragar completamente o prazer de viajar, decidimos que não vamos tomar medicação preventiva. Também porque vamos andar vários meses em zonas de risco e não se pode tomar esta medicação durante um período alargado, a não ser que queiramos nos inscrever já numa lista para transplante de fígado! Vamos então à maluca? Não. Nas zonas de risco vamos andar mais cobertos, vamos lavar a roupa com um produto repelente, untar a pele de anti-mosquito com forte concentração de DEET (o composto químico que realmente afasta os mosquitos), e à noite utilizar uma rede mosquiteiro sempre que possível. Caso sintamos o mínimo sintoma, tomamos a medicação para tratamento de choque! E o que sera sera!
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E vocês? Tomaram algumas vacinas quando visitaram África, Ásia ou América do Sul? E a Malária? Tomaram comprimidos de prevenção ? Deixem um comentário para podermos partilhar experiências!
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