A Síria foi um dos meus países favoritos no Médio Oriente. Pela sua multiculturalidade, pela hospitalidade dum povo que apesar da dureza da vida recebia muito bem os viajantes, pela sua comida, pela sua riqueza cultural e histórica e pelo facto de não sendo um destino turístico, guardou muito a sua autênticidade!
Apesar de sofrer a repressão da dictadura Assad, era um país perfeitamente seguro para viajar, em que diferentes religiões, sectos e etnias coexistiam em harmonia, acolhendo calorosamente todos os visitantes. Mas via-se que era um país pobre, com grandes disparidades sociais, onde o culto da personalidade e presença policial e militar na rua era uma constante….
Não foi surpresa portanto que este país tenha aderido entusiasticamente à Primavera Árabe. Infelizmente, caiu na desgraça total, num conflicto que, provavelmente se irá arrastar durante muito mais tempo….Há tempos li um artigo que analisava a evolução de todas as guerras civis pelo mundo nos últimos 50 anos, colocando a Síria na mesma categoria que o Líbano, que sofreu uma guerra civil devastadora durante 10 anos, porque os diferentes lados chegaram a um impasse, não tendo capacidade militar de derrotar os outro, mas com força suficiente de se manter na luta indefinidamente…
Tive a sorte de visitar a Síria dois anos antes da guerra começar. Entrei pela fronteira turca no Norte, visitei Aleppo, uma das cidades míticas do Médio Oriente e hoje um dos teatros principais da guerra e passei por Homs, cenário duma catástrofe humanitária, com a população civil vítima dum cerco militar desde o início do conflicto. Descendo para sul, visitei Damasco, uma das cidades das mil e uma noites, antes de chegar a Palmyra, um dos sítios de ruínas Romanas mais imponentes do mundo.
Ao ver ontem, mais uma vez, imagens da guerra na Síria na televisão, a minha memória levou-me a Palmyra, à imensidão do Deserto e ao silêncio e à calma que havia naquele sítio. Perguntei a mim próprio se Palmyra ainda é um sítio calmo ou se está cheio de militares e se o silêncio foi substituído pelo ruído das armas.
Percorri as fotos que tirei em Palmyra, num misto de nostalgia e pena, pelo povo sírio, por um país que acabou no lado errado da Primavera Árabe. Penso que as próprias fotos deixam passar o sentimento de imensidão e de silêncio. Convido-vos a olharem para elas, também em silêncio, num minuto de solidariedade por aquela gente hospitaleira e simpática.