O dia seguinte foi cool, e foi provavelmente um dos melhores dias da minha viagem de 240 dias, que me levou à volta da Ásia, desde a Turquia até à Rússia. Depois das aventuras do dia anterior, com a saída atribulada de Ulan Bator e com a quantidade de vezes que nos perdemos, queríamos apenas pedalar e desfrutar do parque e das suas paisagens, e se possível interagir com os mongóis que se tinham revelado tão hospitaleiros e amigáveis no dia anteiror. Levantámo-nos cedo, e após o pequeno almoço, com manteiga e leite caseiro despedímo-nos da família mongol e fizémo-nos à estrada.
Por esta altura já estávamos bem dentro do Parque Terelj e talvez fosse o tipo de terreno, talvez fosse o nosso talento de orientação e interpretação do mapa militar Soviético, não nos voltámos a perder e pedalámos durante várias horas seguidas. Claro que houve sempre oportunidade para encontrar pessoas, como quando nos deparámos com um rio algo profundo com uma corrente já fortita, e pedimos boleia para o atravessar num carro de bois!
A paisagem na Mongólia é muito diversa. Há desertos no Gobi, há planícies onduladas vastas (pensem westerns americanos filmados no Montana) e também há paisagens mais verdes e florestais, como aquelas em que pedalávamos agora. Fazia bom tempo, mesmo calor para quem pedalava e o único incómodo era mesmo a quantidade de moscas que não nos largavam assim que parávamos.
Passámos a manhã a pedalar e por volta da hora de almoço parámos há beira dum rio, onde comemos umas sandwiches que ainda sobravam de Ulan Bator e aproveitámos para dar um mergulho.
Seguimos viagem e pouco depois encontrámos um Ovoo, uma espécie da altar feito de um monte de calhaus, que são utilizados pelos shamans para trocar energias e comunicar com ” o outro mundo” mas também em rituais budistas. Manda o costume que se dê três voltas ao Ovoo, e que se adicione mais uma pedra ao monte, para que se tenha uma boa viagem, algo que prontamente fizémos. Toda a ajuda era pouca e parece que funcionou, já que durante toda a viagem não tivémos nenhum furo ou qualquer problema com as bicicletas- os Deuses estavam conosco!
A meio da tarde, depois de atravessarmos alguns vales pouco povoados apenas com alguns gers dispersos, chegámos a um que tinha uma espécie de povoação de tendas, com uma vintena delas. Começava a ficar menos calor e havia uma atmosfera simpática e agradável naquele sítio.
Sentíamo-nos bem vindos e alvo da curiosidade, especialmente da criançada- provavelmente eramos os primeiros estrangeiros com quem interagiam! Era o sítio ideal para passar o resto do dia – por estas andanças não havia ninguém que falasse uma palavra de inglês, mas a linguagem da hospitalidade, com a ajuda do nosso papelinho mágico derrubaram quaisquer barreiras de comunicação e a primeira família que abordámos ofereceu-se logo para nos alojar.
O resto do dia e a manhã seguinte foram passados a descansar e a brincar com a criançada. Tirei aqui as melhores fotos de todos os 240 dias na estrada (e quando chegámos a Ulan Bator, imprimimos e enviámos por correio as melhores para a família que nos acolheu!) Senti, que, ao fim de 7 meses de viagem, tinha descoberto a maneira de verdadeiramente conhecer um país, as suas paisagens e acima de tudo, a melhor parte que são as suas pessoas e cultura. Penso que a maior lição desta viagem toda foi que, monumentos ou paisagens belíssimas estão acessíveis a todos os turistas. Mas partir à aventura e entregar-se à hospitalidade das pessoas, conviver e rir com elas, essa é a maior dávida de viajar e somente disponível para quem saia da sua zona de conforto e ouse aventurar-se um pouco mais e acreditar que existe bondade e hospitalidade se a procurarmos! Deixo-vos algumas fotos , já que valem por mil palavras…





















